Neoclassicismo
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O
Neoclassicismo foi um movimento cultural nascido na
Europa em meados do século XVIII, que teve larga influência em toda a arte e cultura do ocidente até meados do século XIX. Teve como base os ideais do
Iluminismo e um renovado interesse pela cultura da
Antiguidade clássica, advogando os princípios da moderação, equilíbrio e idealismo como uma reação contra os excessos decorativistas e dramáticos do
Barroco e
Rococó.
Origens e contexto
O nascimento do Neoclassicismo se deve em linhas gerais ao crescente interesse pela antiguidade clássica que se observou na Europa em meados do século XVIII, associado com a influência dos ideais do
Iluminismo, que tinham base no
racionalismo, combatiam as superstições e
dogmas religiosos, e enfatizavam o aperfeiçoamento pessoal e o progresso social dentro de uma forte moldura
ética. Os acadêmicos da época iniciaram pesquisas mais sistemáticas da arte e cultura antiga, incluindo escavações arqueológicas, formaram-se importantes coleções públicas e privadas de arte e artefatos antigos, e o número de estudos especializados cresceu significativamente. Estudiosos como
Robert Wood,
John Bouverie,
James Stuart,
Robert Adam,
Giovanni Battista Borra e
James Dawkins publicaram vários relatos detalhados e ilustrados de expedições arqueológicas, sendo especialmente influentes o tratado de
Bernard de Montfaucon,
L'Antiquite expliquee et representee en figures (1719-24), fartamente ilustrado e com textos paralelos em línguas modernas e não apenas no
latim como era o costume acadêmico, e o do
Conde de Caylus,
Recueil d'antiquites (1752-67), o primeiro a tentar agrupar as obras de arte da antiguidade clássica segundo critérios de estilo e não de gênero, abordando também as antiguidades celtas, egípcias e etruscas. Essas publicações contribuíram de forma importante para a educação do público e para um alargamento da sua visão sobre o passado, estimulando uma nova paixão por tudo o que fosse antigo.
[1] Também teve um peso na formação do Neoclassicismo a reapreciação da arte da Alta
Renascença italiana e do Barroco classicista francês. Acrescente-se a isso a descoberta de
Herculano e
Pompéia, uma grande surpresa entre os conhecedores e o público, e embora as escavações que começaram a ser realizadas nas ruínas em 1738 e 1748 não tenham encontrado obras-primas em arte, trouxeram para a luz uma quantidade de relíquias e artefatos que revelavam aspectos do cotidiano romano até então desconhecidos.
[2]
Johann Joachim Winckelmann.
Apesar de a arte clássica ser apreciada desde o Renascimento, o era de forma circunstancial e empírica, mas agora o apreço se construía sobre bases mais científicas, sistemáticas e racionais. Com essas descobertas e estudos começou a ser possível formar pela primeira vez uma cronologia da cultura e da arte dos gregos e romanos, distinguindo o que era próprio de uns e de outros, e fazendo nascer um interesse pela tradição puramente grega que havia, na época, sido ofuscada pela herança romana, ainda mais porque na época a
Grécia estava sob domínio turco e por isso, na prática, era inacessível para os estudiosos e os turistas do Ocidente cristão. Os escritos de
Johann Joachim Winckelmann, um erudito alemão de grande influência especialmente entre os intelectuais italianos e alemães, incluindo
Goethe, enalteceram ainda mais a arte grega, e vendo nela uma "nobre simplicidade e tranqüila grandeza", apelou a todos os artistas para que a imitassem, restaurando uma arte idealista que deveria ser despida de toda transitoriedade, aproximando-se do caráter do
arquétipo. Seu apelo não passou despercebido, e a
história,
literatura e
mitologia antigas passaram a ser a fonte principal de inspiração para os artistas, ao mesmo tempo em que eram reavaliadas outras culturas e estilos antigos como o
gótico e as tradições folclóricas do norte europeu, o que possibilitou que os princípios neoclássicos coexistissem com os do
Romantismo.
[2]
O movimento teve também conotações
políticas, já que a origem da inspiração neoclássica era a cultura grega e sua
democracia, e a romana com sua
república, com os valores associados de
honra,
dever,
heroísmo,
civismo e
patriotismo. Como consequência, o estilo neoclássico foi adotado pelo governo revolucionário francês, assumindo os nomes sucessivos de estilo Diretório, estilo Convenção e mais tarde, sob
Napoleão, estilo Império, influenciando outros países. Nos
Estados Unidos, no tumultuado processo de conquista de sua própria independência e inspirados no modelo da Roma republicana, o Neoclassicismo se tornou um padrão e foi conhecido como estilo Federal. Entretanto, desde logo o Neoclassicismo se tornou também um estilo cortesão, e em virtude de suas associações com o glorioso passado clássico, foi usado pelos monarcas e príncipes como veículo de
propaganda para suas personalidades e feitos.
[2]
Literatura
-
Os textos empregam linguagem clara, sintética, gramaticalmente correta e nobre. A forma liberta-se um pouco do rigor do
Classicismo anterior. A principal expressão do movimento na
literatura é o
Arcadismo, manifestado na
Itália, em
Portugal e no
Brasil.
Na
França, os novos ideais
iluministas são a base dos textos. Os principais autores são
Montesquieu (1689-1755) e
Voltaire. O primeiro é autor, entre outras, da obra
Do Espírito das Leis. Voltaire experimenta vários gêneros:
tragédia (
A Morte de César),
poesia (
Discurso sobre o Homem),
contos fantásticos (
Zadig) e
romance de fundo moral (
Cândido). No final do século, uma visão crítica da aristocracia é dada por
Choderlos de Laclos (1741-1803), em
As Relações Perigosas, e pelos romances eróticos do
Marquês de Sade (1740-1814) e de
Restif de la Bretonne (1734-1806). Na
Inglaterra destacam-se
Robinson Crusoe, de
Daniel Defoe (1660-1731), e
As Viagens de Gulliver, de
Jonathan Swift (1667-1731).
A sua principal expressão na literatura, o
Arcadismo foi um movimento literário que buscava basicamente a simplicidade, oposto a confusão e do retrocedimento Barroco. Retrata a vida pastoril e harmônica do campo. As referências clássicas voltam, e as obras são recheadas de seres da
mitologia grega. Porém se observa que a mitologia, que era um acervo cultural concreto de
Grécia,
Roma e mesmo do
Renascimento, agora se converte apenas num recurso poético de valor duvidoso. Também se destaca
Éclogas de
Virgílio e dos
Idílios de
Teócrito, obras clássicas que retratam a natureza harmônica, e por isso são os dois autores mais imitados pelos árcades.
Os árcades, ao contrario do
Barroco, preferiam uma visão equilibrada do mundo. Sem exageros, sem conflitos, apenas a simplicidade.
Artes plásticas
A arte neoclássica busca inspiração no equilíbrio e na simplicidade, bases da criação na
Antiguidade. As características marcantes são o caráter
ilustrativo e literário, marcados pelo formalismo e pela linearidade, poses escultóricas, com
anatomia correta e exatidão nos contornos, temas "dignos" e clareza. A arte neoclassica nasceu na Europa, nas últimas décadas do século XVIII e nas três primeiras décadas do século XIX, foi uma reação ao barroco e ao rococó.Não foi apenas um movimento artístico mas também cultural que refletiu as mudanças que ocorriam na época marcadas pela ascensão da burguesia. Este estilo procurou expressar e interpretar os interesses, a mentalidade e os habitos da burguesia manufatureira e mercantil da época da revolução francesa e do Império Napoleonico.
Principais características do Neoclassicismo
- formalismo e racionalismo
- exatidão nos contornos
- harmonia do colorido
- retorno ao estilo greco-romano
- academicismo e técnicas apuradas
- culto a teoria de Aristóteles
- ideal da época : democracia
- pinceladas que não marcavam a superfície
Pintura
-
Uma amostra de pintura neoclássica nesse período é
O Juramento dos Horácios, do francês
Jacques-Louis David (1748-1825). A pintura neoclássica de David dominou o panorama artístico francês durante quase meio século, fazendo com que ele, acima das contingências políticas, fosse o pintor oficial da
revolução francesa e, depois, do regime de
Napoleão Bonaparte. Outro pintor de destaque é
Dominique Ingres (1780-1867), de
A Banhista de Valpinçon. Entre os italianos, sobressai
Tiepolo (1696-1770).
- Principais pintores
- Dominique Ingres (francês, 1780-1867): Formado na oficina de David, permaneceu fiel aos postulados neoclássicos do seu mestre ao longo de toda a vida. Passou muitos anos em Roma, onde assimilou aspectos formais de Rafael e do maneirismo. Ingres sobreviveu largamente à época de predomínio do seu estilo, dado que morreu em 1867. A partir de 1830 opôs-se com veemência, da sua posição de académico, ao triunfo do romantismo pictórico representado por Delacroix. Ingres preferia os retratos e os nus às cenas mitológicas e históricas. Entre os seus melhores retratos contam-se Bonaparte Primeiro Cônsul, A Bela Célia, O Pintor Granet e A Condessa de Hassonville. Nos nus que pintou (A Grande Odalisca, Banho Turco e, sobretudo, A Banhista) é patente o domínio e a graça com que se serve do traço. A sua obra mais conhecida é Apoteose de Homero, de desenho nítido e equilibrada composição.
- Outros pintores
Escultura
-
Na
escultura o movimento buscava inspiração no passado. A
estatuária grega foi o modelo favorito pela harmonia das proporções, regularidade das formas e serenidade da expressão. Apesar disso, não atingiram a amplitude nem o espírito da escultura grega. Também foi menos ousada que a pintura e arquitetura de seu tempo. Entre os principais escultores destaca-se o italiano
Antonio Canova (1757-1822), que retrata personagens contemporâneos como divindades mitológicas como
Pauline Bonaparte Borghese como Vênus.
Música
O período normalmente designado como neoclássico é, em música, reconhecido como classicismo, ou período clássico. Grosso modo, a segunda metade do século XVIII, período marcado pela simplificação das estruturas
Barrocas, tornando a música mais simples através da mudança de um estilo contrapontístico para outro homofônico. São considerados o auge deste estilo os compositores
Mozart e
Haydn, pelo modo como sintetizaram os trabalhos de seus antecessores, dando forma definida à
Sonata, à
música de câmara, ao
concerto e à
Sinfonia.
Beethoven é considerado o compositor responsável pela transição do estilo clássico para o
romântico.
A denominação "Neoclássica" em música geralmente se refere a um movimento musical um tanto difuso, ocorrido aproximadamente entre 1920 e 1950. A principal figura deste movimento foi
Stravinski, que após um período identificado como primitivismo, ou "fase russa", passou a evocar a estética do século XVIII. Isso ocorreu principalmente a partir de seu balé
Pulcinella (1920). Outros compositores podem ser reputados como neo-clássicos no século XX, em geral uma característica atribuída àqueles que não buscaram uma estética atonal ou o exacerbado uso da dissonância e do ruído, mas continuaram compondo segundo os parâmetros tonais dos séculos anteriores, de alguma forma renovados.
Arquitetura neoclássica
-
A Arquitetura neoclássica foi produto da reacção anti
barroco e anti
rococó, levada a cabo pelos novos artistas-intelectuais do
século XVIII. Os Arquitectos formados no clima cultural do racionalismo iluminista e educados no entusiasmo crescente pela Civilização Clássica, cada vez mais conhecida e estudada devido aos progressos da
Arqueologia e da
História.
- Algumas características deste movimento artístico na arquitectura são
- Materiais nobres (pedra, mármore, granito, madeiras)
- Processos técnicos avançados
- Sistemas construtivos simples
- Esquemas mais complexos, a par das linhas ortogonais
- Formas regulares, geométricas e simétricas
- Volumes corpóreos, maciços, bem definidos por planos murais lisos
- Uso de abóbada de berço ou de aresta
- Uso de cúpulas, com frequência marcadas pela monumentalidade
- Espaços interiores organizados segundo critérios geométricos e formais de grande racionalidade
- Pórticos colunados
- Entablamentos direitos
- Frontões triangulares
- A decoração recorreu a elementos estruturais com formas clássicas, à pintura rural e ao relevo em estuque
- Valorizou a intimidade e o conforto nas mansões familiares
- Decoração de carácter estrutural
-
Teatro
No
teatro neoclássico a racionalidade predomina, revalorizam-se o texto e a linguagem poética. A tragédia mantém o padrão solene da Antiguidade. Entre os principais autores está
Voltaire. A
comédia revitaliza-se com o francês
Pierre Marivaux (1688-1763), autor de
O Jogo do Amor e do Acaso. Os italianos
Carlo Goldoni (1707-1793), de
A Viúva Astuciosa, e
Carlo Gozzi (1720-1806), de
O Amor de Três Laranjas, estão entre os principais dramaturgos do gênero. Outro importante autor de comédias é o francês
Caron de Beaumarchais (1732-1799), de
O Barbeiro de Sevilha e de
As Bodas de Fígaro, retratos da decadência do Antigo Regime e uma inspiração para as óperas de
Mozart (1756-1791) e
Rossini (1792-1868).
Numa linha que prenuncia o romantismo, trabalha o dramaturgo e filósofo francês
Denis Diderot (1713-1784), um dos organizadores da Enciclopédia. Entre suas peças se destaca
O Filho Natural. O italiano
Metastasio (1698-1782) aproxima o teatro da música, como no melodrama .
Neoclassicismo em Portugal
-
Em
1816, desembarca no Brasil a
Missão Artística Francesa, contratada para fundar e dirigir no Rio de Janeiro uma
Escola de Artes e Ofícios. Nela está, entre outros, o pintor
Jean-Baptiste Debret, que retrata com charme e humor costumes e personagens da época. Em
1826 é fundada a Academia Imperial de Belas-Artes, futura
Academia Nacional, que adota o gosto neoclássico europeu e atrai outros pintores estrangeiros de porte, como Auguste Marie Taunay e
Johann Moritz Rugendas. Pintores brasileiros desse período são
Manuel de Araújo Porto-Alegre e
Rafael Mendes de Carvalho, entre outros.
No país, a tendência torna-se visível na
arquitetura. Seu expoente é
Grandjean de Montigny (
1776-
1850), que chega com a Missão Francesa. Suas obras, como a sede da reitoria da
Pontifícia Universidade Católica no
Rio de Janeiro, adaptam a estética neoclássica ao clima tropical. Mesmo que sua fundamentação fosse de uma sociedade agrário-escravocrata e com um comércio relativamente atrasado, tendo um governo monárquico.
Na
pintura, a influência neoclássica está submetida ao romantismo. A composição e o desenho seguem os padrões de sobriedade e equilíbrio, mas o colorido reflete a dramaticidade romântica. Um exemplo é
Flagelação de Cristo, de
Vítor Meirelles (
1832-
1903).
Na
literatura, a principal expressão é o arcadismo, caracterizado por um estilo mais simples e objetivo e pela temática voltada para a natureza. Os seus principais poetas encontram-se em
Vila Rica, centro cultural do Brasil na época. A vida no campo é também abordada, mas os pastores europeus são substituídos pelos vaqueiros brasileiros.
Cláudio Manuel da Costa (
1729 -
1789),
Tomás Antônio Gonzaga (
1744-
1810) e
Silva Alvarenga (
1749-
1814) são os principais poetas do movimento no Brasil.